A aipcinema atribui o Prémio AIP 2025 a José Bogalheiro

A Associação de Imagem decidiu este ano entregar o seu prémio especial ao professor José Bogalheiro. Este é um reconhecimento que há muito devíamos ao professor que dirigiu a ESTC durante muitos anos e por consequência responsável pela formação de uma esmagadora maioria de profissionais no cinema hoje no ativo.
O professor José Bogalheiro nasceu na Covilhã em 4 de março de 1950. Veio para Lisboa e licenciou-se em psicologia antes de se envolver com o cinema e em particular com o ensino. José Bogalheiro é um dos primeiros alunos dos primeiros cursos da Escola, que se encontrava no conservatório nacional na rua dos Caetanos no Bairro Alto. A escola foi fundada em 1973 pela mão de Alberto Seixas Santos e o professor José Bogalheiro entrou em 75/76, tendo sido contemporâneo de João Botelho, Monique Rutler,  José Mazeda, Vitor Gonçalves, Joaquim Pinto, Pedro Costa entre outros, finalizando o curso em imagem em 1978. Porém não foi na área de imagem que seguiu. Faz uma incursão em produção trabalhando no filme «Silvestre» de João César Monteiro. Depois concorre a uma bolsa que obtém da Secretaria de Estado da Cultura com a finalidade de estudar em Itália o neo-realismo italiano. Esteve por Roma durante 2 anos.
Em novembro de 81 é convidado para integrar o departamento de produção da ESTC e organizar o programa curricular e foi assim que entrou para a Escola Superior de Teatro e Cinema.
Nos primeiros anos a Escola funcionou sem estar verdadeiramente integrada como instituição oficial. Até medos dos anos 80 a ESTC estava impossibilitada de atribuir um diploma oficial aos seus alunos, porque o seu programa ainda não tinha sido homologado por nenhum governo. Foi preciso criar tudo de raiz, com um programa curricular, reconhecido pelo Ministério da Educação e esse foi um trabalho seu. A escola funcionou com uma comissão instaladora durante 12 anos. O grande projeto seria fundar uma escola só de cinema sem a integração do teatro, mas por razões de ordem política nunca se concretizou e assim arrancou-se para a construção de um edifício de raiz para albergar os alunos de teatro e cinema, visto que as instalações do conservatório estavam claramente degradadas.
O projeto levou anos a implementar, com diversos concursos para pedidos de financiamento, com muitas alterações, adiamentos, procura de local para instalar até chegar à Câmara Municipal da Amadora que disponibilizou o terreno para o efeito. A CEE ( Comunidade Económica Europeia) como assim se denominava até ser União Europeia, financiou grande parte da construção. Entre falências do construtor e outros problemas burocráticos apresentados pelo ministério da Educação, finalmente a escola foi inaugurada ainda com algumas obras por terminar em 1998.
José Bogalheiro foi o rosto da implementação da Escola de Cinema não só o edifício, mas também a sua implementação curricular que formou centenas de cineastas e técnicos que têm sustentado a produção do cinema português nas mais diversas áreas. Curiosamente foi a primeira escola pública que se ergueu de raiz para o estudo das artes. A tradição era ocupar e adaptar um palácio ou edifício público sem uso, mas fazer de raiz e adequar com um estúdio com piscina foi obra.   Por isso a Associação de Imagem não poderia deixar de reconhecer José Bogalheiro por este trabalho e dedicação à causa pública e em particular ao ensino do cinema.